Capa – Maio de 2016

 

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O fim. Assim parecia o mundo aos portugueses que acordaram em uma manhã de 1807 sem a sua rainha, seu príncipe regente, sua corte e todos os órgãos que faziam de Portugal um reino autônomo, ou a cabeça de um vasto império. Do dia para a noite, os habitantes do antigo reino pátria de Vasco da Gama, D. Manuel e Luís de Camões se viram lançados a uma condição que lhes parecia indigna, ora sob autoridade francesa, ora à mercê do mando inglês.

Com o passar dos anos e a insistência de D. João em permanecer no Rio de Janeiro, os reinóis cujos interesses estavam ligados ao monopólio econômico e político sobre as partes luso-americanas viam sua situação se deteriorar e, pior, se tornar permanente. Em dezembro de 1815, há pouco mais de duzentos anos, a mudança do status jurídico do Brasil dentro daquele concerto multicontinental parecia selar o fim do mundo tal como ele era, entre os lusitanos, conhecido.

E foi o que aconteceu. Os portugueses de Portugal nunca mais puderam contar com as ricas conquistas americanas, que se tornariam oficialmente independentes em 1822. Dentro do seu próprio país, acabaram envolvidos no torvelinho constitucional, um vento que soprava do leste francês e do oeste norte-americano e que acabara por fazer-se tempestade. Foram divididos pela guerra civil, reorientaram seus interesses coloniais, mas chegaram e ultrapassaram o século XX com outras tragédias e criações – ainda deram ao mundo Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Amália Rodrigues. Continuam a nos descobrir, e nós a eles, e todos nós, nas Áfricas e além, continuamos a redescobrir nosso passado comum e indissociável, doloroso como é o passado da escravidão, também cada vez mais urgente. Urgente como é, aliás, transformar finais em novos começos.

Rodrigo Elias

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